Caso clínico sobre hepatotoxicidade associada ao uso de esteroides anabolizantes, destacando a importância da avaliação precoce e do acompanhamento médico especializado.
Ilustração digital representando os efeitos do Stanozolol no fígado. A imagem mostra um fígado inflamado cercado por estruturas moleculares de anabolizantes, enquanto um médico analisa exames em um laboratório futurista.

Os esteroides anabolizantes androgênicos (EAA) são amplamente utilizados para fins estéticos e de melhoria do desempenho físico. No entanto, seu uso indiscriminado pode levar a efeitos adversos graves, incluindo toxicidade hepática. O Stanozolol, um derivado sintético do di-hidrotestosterona, apresenta um risco particularmente elevado de lesão hepática devido à sua metabolização lenta e exposição prolongada ao fígado. Este artigo aborda um padrão bioquímico característico da lesão hepática induzida por Stanozolol (DILI), baseado em um estudo com 18 pacientes acompanhados ao longo de uma década.

Autores

Maria Eduarda Nunes Albuquerque, Barbara Behrens Freire, Gabriel Martins Nogueira, Paula Ribeiro Oliveira, Larine Rabêlo Laporte, Vinícius Santos Nunes.

Métodos

Foram analisados 18 pacientes do registro latino-americano de hepatotoxicidade induzida por drogas (SLATINDILI) entre 2013 e 2023. Todos os indivíduos eram do sexo masculino, entre 19 e 48 anos, sem comorbidades, e utilizavam Stanozolol por via intramuscular para hipertrofia muscular. Exames laboratoriais detalhados foram realizados, incluindo dosagem de bilirrubina total, transaminases (ALT e AST), fosfatase alcalina (ALP) e gama-glutamil transferase (GGT). Além disso, exames de imagem e, em alguns casos, biópsia hepática foram utilizados para excluir outras causas de dano hepático.

Resultados

Os achados laboratoriais revelaram um padrão distinto de lesão hepática associada ao uso de Stanozolol:

  • Hiperbilirrubinemia intensa: Média de bilirrubina total de 23,3 mg/dL, com 38,8% dos pacientes apresentando níveis superiores a 30 mg/dL.
  • Transaminases moderadamente elevadas: AST com média de 80 U/L e ALT de 165,4 U/L, cerca de quatro vezes o limite superior da normalidade.
  • Fosfatase alcalina elevada: Média de 264,8 U/L, equivalente a duas vezes o limite superior normal.
  • GGT dentro dos valores normais ou levemente elevada: Média de 53,7 U/L, indicando um padrão bioquímico específico.

O tempo médio para o surgimento dos sintomas foi de 55 dias após o início do uso da substância, sendo os principais sintomas icterícia, prurido intenso, fadiga e perda de peso. Nenhum paciente evoluiu para insuficiência hepática grave ou necessitou de transplante.

Exames histopatológicos em casos selecionados evidenciaram colestase acentuada na zona 3 do fígado, com mínima inflamação, caracterizando o padrão de “colestase branda”. Esse achado reforça a hipótese de que a toxicidade do Stanozolol pode estar relacionada à inibição do transportador de sais biliares (BSEP).

Conclusões

O estudo confirmou um padrão bioquímico característico da lesão hepática induzida por Stanozolol, marcado por bilirrubina elevada, leve aumento das transaminases e GGT dentro da normalidade. Essa configuração laboratorial distinta deve servir como um alerta para clínicos e hepatologistas no diagnóstico diferencial de colestases induzidas por drogas.

A conscientização sobre os riscos do uso indiscriminado de anabolizantes é fundamental para evitar complicações hepáticas graves. O acompanhamento médico especializado e exames laboratoriais periódicos são essenciais para indivíduos que fazem uso dessas substâncias. Mais estudos são necessários para compreender melhor os mecanismos dessa toxicidade e aprimorar estratégias terapêuticas.

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